Não responda

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Você não diz, mas sabe
como seria muito mais fácil
se eu fosse um calhorda, um patife,
um canalha, ao gosto da língua da tarde

É com o que todas estão acostumadas
- e assim aguardam e querem, fiéis à regra
Sim, afinal todos os homens realmente são iguais
porque todas as mulheres são iguais:
não se livram de os desejarem assim

E nesta pequena cidade ainda há
todo esse casario, cheio de visagens
Calafrios!
Se eu me der por inteiro correrás
de medo da minha outra metade
Acaso, o que farias se eu procurasse
o que não tens, essa sua outra parte?
Cala-te!

Sem utopias, sem mistificação,
o mundo segue como parece que deve ser:
desde sempre, tacape, caverna, escrotidão
pau, cu, boceta, propriedade, procriação

Oh! Onze tiros de canhão! Um hurra!
Um viva a esses belos caminhos maravilhosos
da sobrevivência da espécie
e da evolução!














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Memorial

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Para uma dor que passou
e para a carta que do correio voltou
Para acabar de perder o que não tenho
e tudo que não se passou

Para não ter
e para ter o que deixar
Para não mais no verso seguinte pensar
Para cair e levantar
Para dormir e para acordar

Para apenas poder contar e
para o que os corações não podem aguentar
Para ganhar só o que guardar
quando setembro acabar

Pelo bem de todos que não sejam nós
Pela lei, pela ordem e pelos costumes nos
quintais, corações, salas de embarque, cestas de legumes
Pela paz reclamada nos infinitos mundos -
onde quer que agora eles se encontrem e fundem


Esqueçamo-nos!



(que já sei, afinal, um memorial
se faz para, melhor, de algo
assim não mais se lembrar)











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