Soterro

.
Eu

vou despejar
.......mais este
verso


para
soterrar o
...........anterior

e sei
que
......depois
........outros
......versos
cairão
...por cima
..........desses

e por cima
deles
outros
e depois
outros

dias
após
.....dias
após
......outros
anos
...outros

.....e outras
pessoas
.......palavras
desejos

até
...que
caso
decidas
responder
..........afinal
não mais
.....ouvirei
nem
poderei


e
por
......isso
mesmo
de tão
.........distante
aterrado

....nem mais
me
preocuparei
....deste
estado

da
distância

que é
....surda,
cega
e não tem
coração
.........também
(aqui
......
.......no meio
destas pedras
profundas)

porque
veja só
.......como é fácil
deixar
isso
.....tudo
para
........trás

camadas
a camadas



e vou
despejar
.......dar a
......escrever
.................sem
motivo
mesmo
...........sem
.................querer

tabulando
os espaços
..........mais fáceis
.....e os parágrafos
mais
falsos
.........gratuitos
......e
nervosos









....para
andar
em
.......frente

afastar

e
....erguer
.........esta

intrasponível
armadilha
...........estratificada

.........imponente
............sólida

para
...ti
.....e para
..mim



para
.....nem
mais
quereres
........ler
....mais
.........de
duas
vezes
.. estas
.......pa
......lavras


para
que
.........eu
mesmo
me
.......canse
........de
.......tentar
chegar
......escavando

............
por
..........elas

até

aqui

....mais
...uma

.........vez


.....a





você

















.

Aparição

.
Sua imagem
faz verter
de meus olhos
uma felicidade
desmedida

Sua presença
assim também desmedida
de tempo sem tempo
faz
um dia inteiro valer
uma semana
uma vida inteira valer

Porque
você é minha
aparecida

Você é minha
aparição



.

Volátil

-
...então eis que dás-me assim esse incêndio de tua foto queimando
joga-a nas minhas mãos já inflamadas, só pra veres escapando
entre inertes dedos flamejantes
a imagem

mandas perder e guardar
na memória
dentro daquela mesma gaveta em chamas

para te ter e não ter
para querer ter de tanto não
a queimar-me

acaso queres incendiar o ar?
inflamar a chama e o fogo com mais fogo queimar?
esqueces ou teces?
essa brasa marca minhas retinas que não ardem
muito além desse outro olho que a tela se faz
tão cego de tanta luz a que dá-se

(sim, tu sabes
mandar te perder assim
é só para ganhar-te)

então joga-me de vez todo esse álcool
acaba já esse vasilhame
que já odeio agora esse estado volátil
das não-coisas que ardem ou não ardem
e que não acesas desaparecem
em contato com o ar...

faz muito frio
quando estarmos aqui é não estares e não estar-me

então quero essa pira agora
até os limites do ares
queima-me
invoca-a com todas a forças

até esse frio que sobrará
até o fim
dos fins de todos os nomes do começo

até consumir-me ao estado mais bruto e real
- dentro dessa pedra negra há um diamante
cuja beleza indescritível
a luz
ainda não viu
como só um dia
viram minhas mãos

ele é sólido, reluzente
e funda-se no prazer
de se poder
pegar

você


_