A marcha

.
Me espanto
com quem não se espanta
Eu não gosto de gente
que não gosta de gente

(mas)

às vezes sinto imensa vontade
de não mais ver
nem mais vezes
mais ninguém

O bosque espera refém
cercado por pedras, por bípedes
A serpente tira a pele nos outdoors
Tira a pele nos outdoors a serpente

(João, o sinal da rua não explica
O sinal não explica tua sede
João, as laranjas não matam
As laranjas não matam tua sede)

_

Miss Clima

.
De costas para o Rio Branco
Esnobando o Acre inteiro
Garota do tempo
encoberto por nuvens
Eu quero ser o Rio de Janeiro

Pousando seus dedos
de chuvas esparsas
Sorrindo para o litoral inteiro
Garota do sol claro durante todo o dia
Eu sou Brasil de fevereiro

( Sinto um frio na espinha e não é à toa
É este furacão que se forma
agora à minha costa
Meus pés estão gelados, geladas as minhas mãos
É que está nevando agora dentro da televisão )

Eu vou dançar até chover
na minha cama

Se vais e voltas máxima
de 32 graus azuis brejeiros
Garota não dás a mínima
prá dois milhões de olhos secos

Pode a chuva me queimar
Pode o atlântico congelar
Garota, se hoje o sol não sair
quem vai se importar?

( Setembro e agosto me encharcam a camisa
O sorvete se derrete
antes de chegar à barriga
O sorvete se derrete
de forma besta e indecisa
O sorvete se derrete
nos lábios de miss clima )

Eu vou dançar até chover
na minha cama
Eu vou andar até secar
a minha lama

_

Brasileiros invadem o mundo da moda

.
Brasileiros invadem o mundo da moda
Mas não podem fazer o tal do carnaval
Brasileiros invadem o mundo da moda
Prá fazer seu tudo todinho igual

O mundo é tão igual, normal do anormal
O Bando do Luau, Mickey Mouse é o pedal

Brasileiros invadem o mundo da moda
Cavalera Miranda e o bando do luau
Eu já tenho vergonha de ser brasileiro
Eu já guardo na fronha ((do meu travesseiro))

O som do meu quintal, o breque maioral
O tom do meu varal, demais com colorau

Está certo, aqui você é quem manda
E com salsa em Cuba tá libre a Luanda
(Mas) brasileiros insistem em ser brasileiros
E misturam (demais)

Demais com colorau, o tom do meu varal
O hino matinal, o tal do carnaval

Brasileiros invadem o mundo da moda
A mulata entortando o pino da porta
(E) eu já acho que brega é ser brasileiro
Eu já guardo na fronha ((do meu travesseiro))

Brasileiros invadem o mundo da bola
Comprovando a existência do velho canal
Brasileiros invadem o mundo da moda
E a Bolívia passando muito (muito) mal
Na América Descentral

_

Supernada

.
O sol dispara seus raios
contra mim
Eu não tenho uniforme
Estou disforme assim

Estou mordido
Estou ferrado, estou varado
O inimigo venceu
E como doeu

(às vezes um parêntese enorme é necessário)

Enfrentando coletivos,
enfrentando calçadas
Inventando uma dança danada
Para a manifestação do nada
Para a amplificação do nada

(salve o supernada!!!)

_

Marx Marex

.
Marx Marex
É o cara mais moderno que eu já conheci
Usa tecnologia de ponta prá catar siri

No pulsar puçá prá catar siri (lata)
No pulsar puçá prá catar

Cidade de fato toca assim
O homem concreto de sol a si
Um dia na rua se viu por aí
Marx Marex catador de si

O mais moderno do Bengui
O homen da lata
O rei do Tupinambá F. Patroni
Marx Marex catador de si

Marx Marex catador de siri (lata)
Marx Marex catador de si

Ok, você é o líder
Você é quem manda
O moral, o considerado
Com sua ponta de lança
Voando (invisível) no céu da bonança
E dançando Marx Marex
Catador de si

_

Arraial

.
Segue quieto no ciso
Meu riso preciso (preciso do ar)

Fumo a fumaça no maço
Há cigarra, há cigarro no meu gargalhar

Gargalo pinga água de fogo
Na língua fogueira do meu assanhar

Coro no coro-socorro
Cabelos e dentes no couro a cravar

Girando e gritando e girando
Cavalgo, deslizo meu destrafegar

Giro e aceno pro medo
Com as pontas dos dedos mando se arredar

Gargalo pinga água de fogo
Na língua fogueira do meu assanhar

_

Canção à prova d´água

.
A cada dia
caído n’água
O calor que faz
em frio se espalha
E a noite traz o dia
Vestido de noite

Eu rio da barca
Eu rio da palavra
Eu cio no teu óleo
Eu crio com os olhos
No escuro do dia

Enquanto as estrelas seguem em linha reta
A canção me atravessa o Cruzeiro
O Sul sem Sol aponta pro meu peito
A casa à espera de uma carta

Creia na reza, creia na palavra
Solta à beira d’eira d’alma
A língua que me aponta o abismo
Toca tua cor e escreve o nome de casa

O vazio me importa agora
Agora me importa o vazio (o meu deus é o amor)

Sou um carro veloz no túnel de vento
Com meu perfil sólido reluzente
As minhas dores não me esmagam sobre o assento
Rasgo então este abrigo no seio do tempo

_

Café BR

.
Hoje não tem café
porque não tem açúcar
Hoje não tem café
porque faltou o gás
Hoje não tem café
porque acabou o copo
Hoje não tem café porque não tem café (porque me falta isso)

Hoje não tem café porque não tenho água
Hoje não tenho colher porque me falta filtro
Hoje faltou o gás porque não tenho copo
Hoje não tem café porque não tem café (porque me falta isso)

Borra!

_

Vale quanto pesa

.
Motoqueiro
sua vida vale muito mais
que este pedaço de massa quente

Eu sei
disseram que a vida agora é
só contar seus pontos, mas entende

Escore hardcore é prá quem nem cora
Escore hardcore é prá quem se escora
Escore hardcore é prá quem nem chora
E eu, cheio de palavras cortadas
em um papel colado de revistas peladas
pedindo um resgate de mim mesmo
com limão birita e mate (e mate)

Palavras são limas azedas que limpam a garganta...
palavras são rodelas azedas
detergentes de mentiras tantas

Vale quanto pesa

Seguro morreu de velho e o velho ainda rendeu o seguro
Segurando na mão de Deus eu vou até o escuro
Seu guru diz que tem a chave do futuro
Quanto vale esta vida ao peso do mundo?

Vale quanto pesa


_

Linha reta

.
A vida não é linha reta
Eu garanto
Não existe o triângulo-retângulo

A menor distância
não é a reta no pranto
A lágrima se curva
em seu rosto seu moço
A bala perdidase perde em desgosto
Na esquina
que se dobra a seu canto


_

Espaço prá passear


Passeio ao lado

do recordista Anatoli no espaço:
- Espaço prá passear!

Assisto do passeio público e disfarço:

- Mais um passo sem calço, sem laço!
Amanhã metatarso exposto ou emplasto sabiá!
Roela e aço, ruela e passo...

Bólidos no colar do

Enfeitado mundo-açu
Sentidos esparsos
Sóis silvando silêncio em brilho
Como é gélido, dos deuses nas alturas,
O ouvido (o ouvido!)

- Espaço prá passear!

....................... (Nuas nuvens venus, nuvens
................................. nuas vêm, nuas vão, nuvens
................................ venu s nu vens)


...................................... Chão.


.