Pedido no bilhete ao pé das flores que tomaram a nossa sala



Se abres esses campos
onde sopras essas raras cores de casa,
se ergues esse abrigo,
onde todas nossas almas
deitam, bebem, comem, riem, dançam, nascem, luzem e falam
- esse onde os refúgios lá de fora dentro dele já pousavam -,


comigo então casas?














































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Terrorismo contra redações: Sete de Janeiro ainda a aprender com Onze de Setembro


Se esse é o nosso Onze de Setembro, vamos encarar de frente o problema: os extremistas, infelizmente, estão anos-luz à frente quando o assunto é cooperar globalmente em rede para propagar o ódio e disseminar o terror. Contra isso, o que estamos fazendo? Seguiremos os jornalistas simplesmente erguendo plaquetas de luto nas ruas? Somos - ou pelo menos deveríamos ser - inteligentes o suficiente para saber que, assim como o terror aprendeu a não ter mais centro, a frente dessa batalha há muito deixou de ser a praça pública. 

E há décadas a imprensa nacional e mundial segue vulnerável a toda sorte de ditadores, pistoleiros, capangas e até de outras estirpes de terroristas - esses legalizados -, que ainda mantém à sombra muitos de nossos deadlines e redações. Esses muitas vezes andam à luz do dia, não usam capuzes ou capacetes de motoqueiros nem invadem jornais com fuzis de assalto. Eles já estão lá dentro. De grandes corporações e grupos políticos a humores de diretores de redação, eles são conhecidos e há muito fazem o que fazem - hora aos olhos complacentes da Justiça, hora sob os sorrisos silenciosos dos donos da mídia, hora à vista grossa das nossas inertes federações, sindicatos e associações de classe.

Enquanto a nova ordem histórica global só se encarrega de atualizar e ampliar o cerco à liberdade de expressão e à imprensa, tudo o que conseguimos fazer neste Sete de Janeiro é posar com nossos papelões pretos de protesto e cartazes frente às câmeras e redes sociais. Isso é combativo? Isso mudará as coisas? Só isso garantirá a necessária manutenção do espaço público ao bom debate, ou de nossa integridade física, intelectual, profissional e moral?

Até quando nos portaremos assim, à espera dos que nos aniquilam, como frágeis drosófilas acometidas pela Síndrome do Super-Homem? Em delírios, nos achamos tão intocáveis e acima dos demais mortais que assim seguiremos morrendo, como de fato somos: apesar da força das palavras e das ideias, nada mais encarnamos que uma negra nuvem de frágeis moscas negras contra o branco papel. Vamos lá então: #SomosTodosMoscasCharlie mudando seu status para LUTO MUNDIAL. Boa maneira de garantir que nada mudará.

O terrorismo contra as redações que agora atinge de forma mais sangrenta um dos corações da democracia que ainda resta no globo está nos dizendo algo. Se até formigas, cupins e abelhas assim vivem seus modos complexos de inteligência coletiva, como há tempos lembra Steven Johnson, aprendamos também com a observação dos novos padrões que se colocam.

Repito mais uma vez: o terrorismo que agora atinge as redações está nos dizendo algo. Precisamos nos unir e transformar nossas estratégias de ação. Repito de novo. O novo terrorismo que atinge as redações está nos ensinando algo: precisamos nos defender e nos replicar de forma mais inteligente e eficaz, seja em enxames, em redes, em células. É pela nossa sobrevivência, é pela manutenção daquilo que ainda nos faz profissionais, cidadãos, pessoas, democratas, amantes da liberdade e opositores das injustiças, onde quer que estejamos.














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